Prosa

Rolhas e borbulhas

Prefiro aquele momento do estourar de uma rolha de espumante – seja Champagnes, cavas ou proseccos – ao ato imediato de  bebê-las assim que chegam em minhas mãos, como quem põe fim a um ritual sagrado. Não gosto de fins, prefiro os começos. Uma questão de princípio.

Também prefiro acompanhar o tráfego de borbulhas na taça por instantes, descartando a pressa, o imediatismo do consumo tão em voga, a pedir outra ao garçon ou a quem estiver por perto. Gosto da apropriação pública de meus silêncios indevidos. Há universos indescritíveis dentro de uma flute. Há uma corrida festiva entre as borbulhas para ganhar o céu. A liberdade sempre tão sedutora.

E também aprecio sobremaneira a ideia de uma bebida destinada apenas a celebrações e grandes momentos. Uma bebida que brinda encontros, chegadas e conquistas. Uma bebida que nos fala sobre felicidade. Instantes felizes, tão efêmeros quanto as “bolinhas” numa taça flute.

 Por isso guardo rolhas, escrevo em rolhas o motivo pelo qual foram abertas e ganharam a liberdade de ir para o mundo, e admiro borbulhas em taças. Um ritual  de encantamento com a vida. Memória à prova do tempo. Lembranças protegidas, efemérides registradas.

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