Parece até de verdade, pensei. Passarinho desgaiolado. Livre. Pousado na cerca. Será que sabe que é de ferro, fundido a fogo, vindo das mãos de um artesão, um outro tipo de Deus? E me lembrei do exato momento do encanto. Antes da cerca, numa prateleira. Entro numa loja e meu olhar para. Uma moça se aproxima, e diz, em tom de segredo ” só temos esse, na verdade, só vieram três, esse e mais dois. São de um artesão de Minas”. Minas Gerais. Gosto de lá, e lembrei de todas as vezes que fui pra lá. Peguei “a peça” na mão. Senti o peso, a textura irregular. Débito ou crédito? E levei-o para casa embrulhado em papel de seda. Ficou meses dentro de uma caixa, mais de ano, e eu sem saber o que faria com ele. Certa vez improvisei como peso de papel. Ele caía. Tombava. Voltou para caixa. Alguém comentou ” Para que você compra essas coisas?”. Como se tudo nessa vida tivesse explicação ou fosse de “caso pensado”. Hoje enfeita a cerca do jardim da minha casa. Eu que na época, nem casa tinha, muito menos cerca e paisagem.
Passarinho que pousou na minha vida sem destino certo, só pra me dizer – que são assim que as coisas acontecem, entre um acaso e outro, as coisas ganham rumo. E algumas fazem sentido.