Prosa

Cariocas, livros e livrarias

Poderia ser um curta feito de pequenas cenas numa livraria, observadas de perto, por mim, quando trabalhei na Travessa de Ipanema, vulgo “Travessão”, para os íntimos.

Uma menina bate os pés, tentando se livrar da areia da praia. Ela ajeita as havaianas, dá um “quase sorriso” ao segurança, e entra na livraria. Desfila seu charme pós praia, enquanto confere o celular e é atendida pelo  livreiro que aparece – ou quase esbarra.

Enquanto isso, um rapaz de boné chega com seu skate e pergunta a um livreiro “Posso deixar aqui?” E entra com suas bermudas excessivamente largas e algumas tatuagens à mostra. O skate ficou ao lado de três sacolas de compras, um carrinho de bebê e dois guarda-chuvas. Tudo em “casa”.

E escuta-se, de repente, um grito vindo de dentro, ” Joana!”. Atrás da menina, uma mãe encabulada corria para alcançar a garotinha enquanto se desculpava pelo susto causado, mas Joana sabia exatamente aonde queria chegar, onde estavam os “seus” livros e iguais – a seção infantil. O pai, mais atrás, observava a confusão com uma ponta de orgulho “Joana não é fácil… iria longe”.

Um senhor comenta a cena com o segurança da entrada ” Essa garotada…” e fica na dúvida entre tomar um café antes ou depois de ver os livros. Mas é atendido pelo “seu” Livreiro de sempre, conhecedor de suas predileções e que avisa ao vê-lo ” Suas encomendas acabaram de chegar!”. Os dois entabulam aquela habitual conversa. Depois se despedem, ele irá esperar por um amigo, no café. Porque livros estão para café, como amigos estão para boas conversas. Subiu para o Bazzar, no segundo piso.

Uma mulher atende o celular “Cheguei agora, cadê você?” Reconhece o livreiro que a ajudou na última pesquisa de títulos e aproveita pra fazer uma consulta. Comenta que vai fazer uma reunião de trabalho ali mesmo. Mundo perfeito.

 Uma moça pega coragem, quebra a timidez e pergunta ao caixa “Aquele é o ,,,”. E o caixa confirma. Ele mesmo. Figura ímpar, uma simpatia, às vezes vem aqui somente para conversar. Celebridade do “bem”. Ele conversa sobre futebol, divide suas preocupações com o Livreiro amigo, que também possui o coração de mesmo time, e segue seu caminho. Não é conversa de bar, é conversa de livraria mesmo. Literatura e futebol. Letras em campo.

E assim, o Carioca, conhecido por adicionar medidas certas de prazer a sua rotina, incluiu as livrarias da cidade em sua vida, com a mesma leveza que escolhe seu lugar na praia ou estende a canga na areia. Cariocas leem “clássicos” e “novidades”, e sabem harmonizar livros, areia, café e mate.

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