Meu passado não me condena.
Certa vez, numa entrevista de trabalho me perguntaram ” Quem para você seria uma referência feminina de personalidade?”. Era uma dessas entrevistas que no final do processo colocam você com mais de uma entrevistadora na mesma sala para medir seu grau de loucura ou coisas do tipo. Tenho agonia. Eu devia ter uns 19 para 20 anos. Era uma dessas marcas que colocam seu escritório lá longe e contam com o desespero de iniciantes, como eu na época, para fazer parte do mercado e aceitar qualquer roubada em nome do currículo. Na ida eu já tinha dito pra mim mesma ” Você não vai ganhar mal nesse fim de mundo dado a “fashion” só porque a marca é descolada”. Sempre tive meus limites. Mas ali estava eu… e para responder a sorridente entrevistadora pensei em algumas mulheres, tipo “Margaret Mee”, mas achei que a criatura a minha frente não saberia quem era, depois “Chanel”, mas achei que seria uma escolha muito óbvia. Sim! “Josephine Baker”!
E comecei a defender minha referência. Sua vida escandalosa e totalmente à frente de seu tempo que havia chocado e encantado os anos loucos de uma Paris efervescente quando saiu dos EUA, atravessou o Atlântico e foi brilhar por lá. Fez história nos cabarés, transformou sua nudez em arte, colaborou com a resistência francesa, na 2ª Guerra Mundial, atuo como espiã ( há controversas), filha de pai desconhecido com algumas prováveis opções. Josephine era uma mistura de raças bombástica. Ainda adotou crianças de diferentes nacionalidades e nunca se intimidou com o mundo a sua volta.
Quando eu acabei, sabia que a vaga não seria minha, afinal, a entrevistadora denotava total desconhecimento e certo constrangimento com sua própria ignorância sobre Josphine. Uma lástima. Saí de lá com a sensação de dever cumprido ” Vim, tentei, não serei chamada, mas plantei uma semente nada convencional nessa entrevista”.
Mais de 30 anos depois, eu me pergunto: quem hoje superaria Josephine Baker?
Quando acabei de escrever essa lembrança, tentei postar uma foto dela na minha página, mas o Face não deixou. “Era ofensiva”. Fora do “Padrão permitido” .
Josephine mostrava seus lindos seios morenos de fora. Ela continua sendo uma referência de força para mim. Minha inspiradora Josephine ainda “causa”, é tabu e sempre será.