Vá. Vá logo. Saia e grita sua loucura como se já fosse morta e ressuscita sua vida, sua fome, sua alma antiga e se joga. Descortina seus segredos tão imersos entre o medo de tentar e o risco de dar certo e vá. Mas vá logo.
O momento é agora, o relógio é incerto e pode adiantar, e seu atraso pode ser imperdoável, incalculável. Então, vá. Não se demore, não leia, não escreva, não tecle, não pergunte, não atenda – se quiser chorar, chora.
Resgata sua fé na vida. Leva suas guias, seus terços e seus tristes Santos, e deixa na margem do rio as suas mágoas, seus preconceitos e seus medos. Naquele rio que tudo leva, no entreato de nascer, viver e morrer.
Vá, mas vá mesmo. Sem mentir, sem se iludir, sem inventar. Troca de roupa, coloca um vestido novo e dança. Sem música, sem gente, sem par, inventa uma letra que abençoe as suas feridas e canta, bata palmas, faça festa.
Vá sem despedidas. Leva consigo boas palavras e sua mania de rir de si e da vida. Fica sempre de mãos dadas com sua alegria. Saiba que sua alma ganhou asas, mas que sua liberdade não exclui o verbo “amar”. Beba antes uma dose de calma e euforia on the rocks. Respire. Abra a porta com respeito e pise com brandura nesse chão que vai deixar.
Pendure uma placa com o seguinte aviso: “Fui conjugar o verbo Ir”. Esse verbo não tem volta. E simplesmente se vá.